Conforme prometido, um caso interessante. Este post também serve para quem acha que traumatologia de face "não é para dentista". Obrigado ao paciente que permitiu a divulgação das imagens.
O cirurgião francês René Le Fort descobriu, em 1901, os padrões de fraturas do terço médio da face. Os experimentos de Le Fort consistiram em provocar as fraturas em crânios de cadáveres, com um taco de madeira, com diferentes padrões de força e direção. Considerado um dos estudos de maior importância dentro da odontologia e da Traumatologia Bucomaxilofacial, os estudos padronizaram as fraturas de terço médio da face baseadas nas linhas de menor resistência: Le Fort I, quando o palato (céu da boca) é separado da maxila, Le Fort II, quando a maxila é separada da face, e Le Fort III, quando uma disjunção crâniofacial está presente.
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Padrões de fratura de René Le Fort |
Estes padrões norteiam, por exemplo, as osteotomias nas cirurgias ortognáticas, e também servem para planejar as cirurgias corretivas nas fraturas de face.
O caso a seguir mostra um típico caso de fratura Le Fort II, causada por acidente motociclístico e por nós operado em 2010. As fotos estão devidamente autorizadas.
As tomografias mostram fraturas bilaterais nos pilares zigomáticos, rebordos infraorbitários, corpo do osso zigomático no lado esquerdo e sutura fronto-zigomática no lado esquerdo.
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RX P.A. de Waters mostrando fraturas em ambos pilares zigomáticos e rebordos infraorbitários |
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Tomografia em corte axial mostrando fraturas em ambos rebordos infraorbitários |
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Tomografia em corte axial demonstrando fratura no corpo zigomático direito |
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Tomografia em corte axial demonstrando fratura com afundamento da parede anterior do seio maxilar esquerdo |
Na cirurgia, que envolveu a correção de todos os traços de fratura, foram usadas 5 placas de titânio e 20 micro parafusos. A fratura envolveu um traço passando em ambos os rebordos infraorbitários e pilares zigomáticos, causando mordida aberta anterior, que foi corrigida através de bloqueio maxilo-mandibular.
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RX P.A. de Waters mostrando as placas e parafusos de titânio em posição |
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RX de Hirtz onde se vizualizam o comprimento dos parafusos |
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Aspecto clínico com dois dias de pós-operatório |
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Aspecto clínico com uma semana de pós-operatório, ainda com as suturas |
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4 meses pós-operatórios |
As últimas fotos são de hoje. Estamos agora com 9 meses de pós-operatórios e o paciente encontra-se em bom estado geral, de volta à suas atividades físicas e com um certo receito de motos!!! (pra descontrair).
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Região periorbitária direita: cicatrizes imperceptíveis |
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Região periorbitária esquerda: pequena cicatriz no interior da ruga infraorbitária |
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Oclusão dentária aos 9 meses |
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Aspecto clínico de 9 meses |
Um abraço a todos.