As fraturas de alto impacto (Ferimento por Arma de Fogo) são lesões altamente desafiantes. Primeiro, porque o processo cicatricial é totalmente diverso do comumente observado: as lesões ocorrem não somente no trajeto do projetil no interior do tecido, mas também ao seu redor, criando um espaço virtual e temporário, que muitas vezes não é identificado nos exames por imagem mas que fatalmente é afetado no decorrer do processo de cicatrização.
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"Espaço virtual" causado pelo distendimento dos tecidos durante a passagem do projétil |
Segundo, os ferimentos por arma de fogo provocam fraturas por explosão, raramente ocorrendo nos pontos mais frágeis que normalmente estão fraturados nos ferimentos de baixo impacto (suturas ósseas), tornando a reconstrução muito mais difícil.
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Vista póstero-anterior de um crânio, com as suturas ósseas representadas |
Nos deparamos com um caso bastante desafiante. O paciente, vítima de ferimento por arma de fogo, recebeu disparo no lado direito da face, com o ferimento de saída do projetil no lado esquerdo, na região do osso temporal. Pelo trajeto do projetil, foi destruindo várias estrutura anatômicas: septo nasal, parede lateral nasal, rebordo infra-orbitário, assoalho de órbita, transfixando o seio maxilar e o globo ocular esquerdo (que foi perdido) e sutura fronto- zigomática esquerda.
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A complexidade das fraturas nos dava um prognóstico pobre |
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Repare na perda de substância óssea, especialmente nos ossos nasais |
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Os artefatos tomográficos mostram claramente o trajeto do projétil |
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Vista inferior mostrando a destruição do seio maxilar e assoalho de órbita |
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Múltiplos fragmentos ósseos fraturados |
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Apesar da fratura no osso frontal, não houve comprometimento neurológico |
Optamos, conjuntamente com médico oftalmologista, pela enucleação do globo ocular afetado, que não mais tinha função e poderia geral um processo infeccioso. Como haviam muitos fragmentos ósseos espalhados pelo campo cirúrgico, usamos placas longas, abrangendo o maior número possível de fragmentos ósseos que ainda estavam com irrigação sanguínea (condição para a correta consolidação óssea).
Mesmo com a enucleação do globo ocular e tecidos anexos, ainda havia extensa desorganização tecidual, inclusive com herniamento de tecido para o interior do seio maxilar, razão pela qual optamos por resguardar o assoalho orbitário com micro-tela de titânio para posterior reposição protética.
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Placas extensas na região orbitária e nasal |
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Observe a tela de titânio no assolaho orbitário |
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A região mais difícil de reconstruir foi a nasal |
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A placa inferior abrangeu de rebordo infraorbitário até parede nasal lateral |
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Nesta etapa, o objetivo é devolver as referências anatômicas para posterior reconstrução protética |
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O globo ocular deverá ser reposto através de prótese
Corte axial mostrando a reconstrução anatômica do osso zigomático e assoalho orbitário |
Apesar de um prognóstico bastante desfavorável, o paciente evoluiu muito bem. O planejamento final ainda prevê a remoção de algumas das placas após a consolidação óssea, especialmente nos ossos próprios nasais, região onde se verificou maior dificuldade na sua reconstrução anatômica devido à grande perda de substância.
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